Estreito de Ormuz pode ser fechado pelo Irã

O Estreito de Ormuz volta ao centro das atenções da economia mundial, após o mundo assistir, com apreensão, à escalada do conflito entre Israel, Irã e Estados Unidos nas últimas semanas. Com os recentes ataques coordenados dos EUA a três instalações nucleares iranianas — em 21 de junho — e a ofensiva militar israelense sem precedentes oito dias antes, a tensão na região do Golfo Pérsico atingiu níveis alarmantes. Nesse contexto, o Estreito de Ormuz, por onde transita cerca de 20% do petróleo consumido globalmente, volta a ocupar o centro das atenções geopolíticas e econômicas.

1. O Estreito de Ormuz: uma artéria vital para o comércio global de energia

O Estreito de Ormuz conecta o Golfo Pérsico ao Mar da Arábia. Trata-se de uma passagem com apenas 33 km de largura em seu ponto mais estreito, separando Omã do Irã. Além disso, suas duas rotas de navegação de 3 km cada são suficientemente profundas para os maiores petroleiros do mundo. Não por acaso, ele é a via marítima mais estratégica para a exportação de petróleo global, conforme mostra o gráfico abaixo:

Tabela 1 – Participação dos principais países exportadores pelo Estreito de Ormuz

PaísVolume exportado/dia (milhões de barris)Participação relativa
Arábia Saudita6,030%
Emirados Árabes Unidos2,512,5%
Irã1,89%
Kuwait1,47%
Qatar (GNL)1,3 (em gás liquefeito)
Outros7,035,5%

2. Por que os EUA pediram à China que impeça o Irã de fechar o estreito?

Dado que a China é hoje o maior comprador de petróleo iraniano — com mais de 1,8 milhão de barris diários importados — os Estados Unidos, estrategicamente, pressionaram Pequim a usar sua influência diplomática sobre Teerã. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou:

“Se o estreito for fechado, será um suicídio econômico para o Irã. A China precisa entender que também será diretamente afetada.”

Além disso, países asiáticos como Índia, Japão e Coreia do Sul também dependem do petróleo que passa por Ormuz, o que amplia a relevância do apelo dos EUA.

3. Quais as possíveis consequências de um bloqueio?

As consequências econômicas de um eventual bloqueio seriam imediatas e severas. Além de restringir o fornecimento de petróleo, o preço do barril subiria rapidamente, afetando toda a cadeia produtiva mundial. O gráfico abaixo simula a evolução dos preços em um cenário de tensão prolongada:

Conforme ilustrado, o preço do barril poderia ultrapassar os US$ 120, com consequências diretas no custo de vida global e no funcionamento das economias industriais.

4. O Irã poderia mesmo fechar o Estreito de Ormuz?

Tecnicamente, sim. Segundo o direito internacional, as águas do estreito estão, em parte, sob soberania iraniana. Portanto, o país poderia tentar bloquear a passagem utilizando:

  • Minas marítimas lançadas por submarinos e lanchas rápidas;
  • Ataques com mísseis antinavio;
  • Patrulhas navais do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.

Todavia, essa ação provavelmente provocaria uma resposta militar imediata dos EUA, como ocorreu na “guerra dos petroleiros” dos anos 1980.

5. A posição da China e o xadrez geopolítico

Apesar de ainda não ter atendido ao apelo norte-americano, a China já demonstrou desconforto com os recentes ataques dos EUA ao Irã. O jornal estatal Global Times criticou Washington por “complicar e desestabilizar a região”, enquanto o embaixador chinês na ONU pediu contenção mútua.

Dado que a China tem muito a perder com o fechamento do estreito — tanto como importadora quanto como defensora do multilateralismo econômico — espera-se que use sua diplomacia para dissuadir o Irã de adotar medidas radicais.

6. Impacto nos mercados globais e nas bolsas de valores

A volatilidade dos mercados financeiros, associada à instabilidade no fornecimento energético, pode provocar reações em cadeia nas bolsas internacionais. O aumento dos preços do petróleo, por sua vez, tende a elevar a inflação global, pressionar os juros e frear o crescimento em economias desenvolvidas e emergentes.

Conclusão

Em síntese, o Estreito de Ormuz representa muito mais que uma simples rota marítima. Ele é um verdadeiro termômetro da estabilidade geopolítica global. Embora o Irã tenha poder de fogo para, temporariamente, fechar a passagem, os custos econômicos, diplomáticos e militares dessa ação seriam altíssimos. Por isso, a mediação de potências como China será decisiva para impedir que o conflito atinja um ponto sem retorno. Enquanto isso, os mercados seguem atentos — e tensos — à próxima movimentação no Golfo Pérsico.

por Mano Graal

Fonte: BBC