IBOVESPA: ALTA EM MEIO A SINAIS DE DESACELERAÇÃO

O Ibovespa encerrou a semana em alta de 0,3% em reais e 0,7% em dólares, alcançando o patamar de 136.341 pontos. Esse resultado positivo, ainda que modesto, reflete uma série de fatores tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. No Brasil, as preocupações com uma possível desaceleração econômica no segundo semestre de 2025 se intensificaram após a divulgação de dados mais fracos do varejo. Em contrapartida, a temporada de balanços corporativos continuou sustentando os preços das ações. No exterior, o mercado financeiro acompanhou atentamente os indicadores de inflação dos Estados Unidos, as falas aguardadas de Jerome Powell e os novos capítulos da relação comercial entre Washington e Pequim. Assim, a semana mostrou-se marcada por uma complexa interação de variáveis que exigiram cautela dos investidores.

1. Cenário Doméstico: Desaceleração Econômica em Foco

Em primeiro lugar, dentro do cenário nacional, os números da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) referentes a junho foram recebidos com preocupação, pois vieram bem abaixo das estimativas do mercado. A principal razão para esse desempenho mais fraco foi a retração observada nos segmentos do varejo mais dependentes de crédito, como móveis, eletrodomésticos e veículos. Essa dinâmica ocorre justamente porque os juros elevados restringem a capacidade de consumo das famílias, ao encarecer financiamentos e reduzir o apetite por compras de maior valor. Além disso, a inflação acumulada ao longo do semestre também pressiona o poder de compra, diminuindo a margem para gastos discricionários.

📊 Tabela 1 – Varejo sensível ao crédito (junho/2025)

SegmentoVariação (%)Impacto sobre o PIB
Eletrodomésticos-3,1%Negativo
Móveis-2,5%Negativo
Veículos e peças-1,8%Moderado

Apesar desses sinais de enfraquecimento, é importante destacar que os analistas ainda não projetam uma recessão acentuada para o segundo semestre. Pelo contrário, há expectativa de uma desaceleração gradual, sem que o PIB apresente quedas bruscas, especialmente porque setores ligados ao agronegócio e à exportação continuam desempenhando papel relevante no crescimento.

2. Temporada de Resultados: O Motor do Ibovespa

Em segundo lugar, no que diz respeito ao mercado acionário, a temporada de resultados do 2º trimestre de 2025 seguiu sendo o principal fator de sustentação para o Ibovespa. Entre as quase 150 empresas acompanhadas pela XP, os números revelaram que 57% superaram as estimativas de lucro, mostrando eficiência na gestão de custos e resiliência em um cenário de menor dinamismo econômico. Outros 16% ficaram em linha com as projeções, enquanto 27% desapontaram investidores, refletindo dificuldades operacionais e margens pressionadas.

📊 Tabela 2 – Desempenho das empresas (2T25)

ResultadoPercentual
Acima das expectativas57%
Em linha16%
Abaixo27%

Além disso, vale destacar que empresas como o Banco do Brasil (BBAS3, +4,4%) conseguiram encerrar a semana em alta, mesmo após divulgar um trimestre considerado fraco. Isso demonstra que o mercado ainda deposita confiança em sua capacidade de recuperação no médio prazo. Já a Sabesp (SBSP3, +9,1%) se destacou positivamente, pois apresentou números sólidos em meio ao processo de reestruturação, indicando que o movimento de transformação da companhia vem sendo bem recebido pelos investidores.

3. Destaques Setoriais: Altas e Baixas

Por outro lado, ao observarmos os destaques individuais, é possível notar um comportamento bastante heterogêneo entre os setores. Por exemplo, a MRV (MRVE3, +10,3%) apresentou forte valorização após resultados consistentes, com destaque para o desempenho em suas operações no Brasil, em um momento em que a recuperação do setor imobiliário ganha tração.

Já na ponta negativa, a Raízen (RAIZ4, -16,1%) sofreu forte correção em razão da divulgação de números que apontaram para um aumento do nível de alavancagem. Essa elevação gera preocupações quanto à sustentabilidade financeira da companhia, especialmente em um ambiente de juros elevados, que tornam a rolagem de dívidas mais onerosa.

4. Cenário Internacional: Foco nos EUA

Além disso, no cenário internacional, os investidores concentraram suas atenções nos indicadores de inflação dos Estados Unidos. O CPI de julho veio em linha com as expectativas, mas o núcleo mostrou aceleração, o que reforça o temor de pressões inflacionárias persistentes. Já o PPI surpreendeu negativamente, apontando para custos de produção mais elevados. Como consequência, o mercado passou a precificar 90% de probabilidade de corte de juros na próxima reunião do Federal Reserve, mas aguarda com grande expectativa as falas de Jerome Powell em Jackson Hole, que poderão confirmar ou rever essa trajetória de política monetária.

5. Política Comercial Global

Paralelamente, outro aspecto relevante da semana foi o avanço das negociações comerciais. Os Estados Unidos e a China anunciaram a prorrogação da trégua tarifária por mais 90 dias, o que trouxe um breve alívio aos mercados, ao reduzir riscos imediatos de novas escaladas. Ao mesmo tempo, o governo americano firmou um acordo estratégico com as gigantes de semicondutores Nvidia e AMD, estabelecendo que 15% das receitas obtidas com vendas para a China serão destinadas ao governo federal. Essa medida busca equilibrar a segurança nacional dos EUA e, ao mesmo tempo, garantir receitas em um setor crucial para a economia global.

6. Resultados Globais: Resiliência Corporativa

Do lado corporativo internacional, a temporada de resultados das empresas do S&P 500 reforçou a resiliência das companhias. Até agora, 459 empresas já divulgaram seus balanços, e impressionantes 81% superaram as estimativas de lucro, com um crescimento médio de 8,3%. Isso mostra que, apesar das incertezas macroeconômicas, as empresas seguem adaptando-se rapidamente, seja por meio de eficiência operacional ou diversificação de portfólio.

📊 Tabela 3 – Temporada de resultados S&P 500 (2025)

MétricaValor
Empresas reportadas459
Surpreenderam positivamente81%
Crescimento médio do lucro8,3%

7. China: Sinais de Enfraquecimento

Finalmente, é preciso mencionar os sinais vindos da China, que indicam um enfraquecimento mais evidente. Os dados de produção industrial e vendas no varejo ficaram abaixo das projeções, levantando preocupações sobre a continuidade do crescimento chinês. Como a China é um dos maiores consumidores globais de commodities, esse enfraquecimento tem reflexos diretos sobre países exportadores, como o Brasil, especialmente em setores ligados ao minério de ferro e à soja.

Conclusão

Em conclusão, a semana do Ibovespa mostrou-se marcada por contrastes: de um lado, o temor de desaceleração econômica doméstica limitou os ganhos, mas de outro, a temporada de resultados corporativos trouxe alívio e sustentação para as cotações. No cenário internacional, os sinais vindos dos EUA e da China reforçaram a necessidade de cautela, enquanto as negociações comerciais indicaram algum espaço para estabilidade. Portanto, mesmo com o avanço do índice, a conjuntura permanece repleta de incertezas, exigindo que investidores mantenham uma postura de atenção redobrada e diversificação de estratégias.

por Mano Graal

Fonte: EXPERT XP

Imagens: ChatGPT / FreePik