RENDA FIXA: PANORAMA SEMANAL

A semana entre 29 de setembro e 3 de outubro foi especialmente relevante para o mercado de renda fixa brasileiro, marcada por intensas movimentações na curva de juros futuros, variações relevantes nos títulos públicos indexados à inflação e comportamento relativamente estável no mercado de crédito privado. Simultaneamente, os mercados internacionais, em especial o norte-americano, apresentaram sinais de acomodação nas taxas de juros, influenciando parcialmente o ambiente doméstico. Entretanto, as preocupações com a trajetória fiscal brasileira prevaleceram como principal vetor de pressão sobre os vértices mais longos da curva. A seguir, apresento uma análise detalhada dos acontecimentos, dividida em tópicos para facilitar a compreensão.

📈 Abertura da Curva de Juros Futuros: Risco Fiscal Ganha Centralidade

Em primeiro lugar, é importante destacar que a curva de juros futuros brasileira encerrou a semana com forte abertura nos vértices longos, refletindo o aumento da percepção de risco fiscal. À medida que as discussões sobre medidas de ajuste das contas públicas se intensificam, investidores demandam prêmios de risco mais elevados para os títulos de longo prazo, buscando proteção contra eventuais desequilíbrios.

VencimentoTaxa FinalVariação Semanal
DI jan/2614,90%+0,6 bps
DI jan/2714,11%+9 bps
DI jan/2913,43%+20 bps
DI jan/3113,62%+18 bps
DI jan/3513,67%+14,5 bps

Como mostra a tabela, os contratos com vencimentos mais longos — principalmente a partir de 2029 — registraram elevações mais expressivas, evidenciando que o mercado está reprecificando o risco fiscal de forma mais intensa no longo prazo. Além disso, os títulos públicos indexados à inflação (NTN-Bs), com vencimento em 2032, tiveram os rendimentos reais elevados de 7,77% para 7,93% ao ano, um movimento significativo que demonstra uma maior exigência de retorno real pelos investidores.

Outro aspecto relevante é que esse movimento não decorre de uma mudança súbita nas expectativas de inflação, mas sim de uma reavaliação estrutural do prêmio de risco fiscal, o que tende a afetar também o custo de financiamento do Tesouro e o custo de crédito no setor privado.

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📊 US Mercado Internacional: Treasuries Recuam em Meio a Expectativas de Estabilização Monetária

Em paralelo, no cenário internacional, observou-se um comportamento relativamente distinto. Nos Estados Unidos, os rendimentos das Treasuries apresentaram queda moderada, refletindo a percepção crescente de que o ciclo de aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve pode estar próximo de seu limite.

TreasuryTaxa FinalVariação Semanal
2 anos3,57%-7,3 bps
10 anos4,12%-5,5 bps

Esse recuo ocorreu, sobretudo, diante de indicadores econômicos que sinalizam desaceleração gradual da atividade, reforçando a expectativa de que novos aumentos nas taxas básicas norte-americanas podem ser limitados. Por outro lado, mesmo com essa redução dos rendimentos internacionais, a curva brasileira seguiu trajetória própria, impulsionada por fatores domésticos.

Além disso, o dólar encerrou a semana praticamente estável em R$ 5,34, mantendo uma queda acumulada de 13,6% no ano, o que tem contribuído para moderar parte das pressões inflacionárias importadas e reduzir a volatilidade cambial. Essa estabilidade cambial, em conjunto com o alívio nas Treasuries, poderia ter favorecido uma melhora no ambiente de juros local; contudo, o peso dos riscos fiscais neutralizou esses efeitos.

💼 Mercado Secundário de Crédito Privado: Fluxos Firmes e Spreads Controlados

Enquanto os juros públicos exibiram volatilidade acentuada, o mercado de crédito privado brasileiro teve um desempenho relativamente estável, indicando resiliência dos investidores.

InstrumentoSpread AtualSemana AnteriorVariação
Debêntures CDI1,69%1,70%-0,01 p.p.
Debêntures Isentas-39,38 bps-29,00 bps-10,38 bps

Como se observa, os spreads das debêntures indexadas ao CDI permaneceram praticamente estáveis, em 1,69%, enquanto os spreads das debêntures isentas apresentaram contração de cerca de 10 bps, sugerindo demanda consistente por ativos de longo prazo com benefícios fiscais, mesmo em um ambiente de maior custo de oportunidade.

Além disso, o fluxo médio diário de negociações manteve-se sólido em diversos instrumentos, com destaque para o crescimento das operações com CRAs e CRIs, o que indica apetite contínuo dos investidores por ativos ligados aos setores do agronegócio e imobiliário.

Tipo de AtivoVolume Diário (R$ mi)Semana Anterior (R$ mi)
Debêntures não incentivadas1.5401.438
Debêntures incentivadas1.5011.580
CRAs381341
CRIs287171

Dessa forma, mesmo diante da alta das taxas públicas, não houve retração significativa no apetite por crédito privado, o que reflete confiança seletiva em emissores de boa qualidade de crédito e uma busca por diversificação de portfólio.

📊 Macroeconomia: Mercado de Trabalho Estável e Próximo das Mínimas Históricas

No âmbito macroeconômico, um dado importante foi a divulgação da taxa de desemprego, que permaneceu estável em 5,6% no trimestre móvel até agosto. Pela estimativa dessazonalizada da XP, houve um leve aumento de 5,7% para 5,8%, ainda próximo das mínimas históricas.

Esse comportamento revela que o mercado de trabalho brasileiro segue robusto, com sinais de estabilização, mas sem apresentar um arrefecimento relevante. Além disso, o nível elevado de emprego contribui para sustentar o consumo das famílias, reforçando a resiliência da atividade econômica. Contudo, essa estabilidade também mantém o mercado de trabalho relativamente apertado, limitando a possibilidade de cortes agressivos na taxa Selic no curto prazo.

📝 Conclusão: Pressões Fiscais Dominam o Cenário de Juros

Em síntese, a semana de 29 de setembro a 3 de outubro foi caracterizada por um forte movimento de abertura da curva de juros brasileira, sobretudo nos vértices longos, motivado essencialmente por preocupações fiscais domésticas. Ao mesmo tempo, os juros americanos cederam e o câmbio permaneceu estável, sinalizando que o vetor internacional não foi o principal responsável pelos ajustes locais.

No mercado de crédito privado, observou-se estabilidade dos spreads e manutenção dos fluxos, sugerindo que os investidores continuam buscando alternativas atrativas em meio à elevação dos juros reais. Já no campo macroeconômico, a estabilidade do desemprego reforça a solidez da economia, ainda que não mude significativamente a trajetória da política monetária.

Portanto, o cenário exige monitoramento atento das discussões fiscais e das decisões de política econômica, já que a continuidade das incertezas pode prolongar o ambiente de taxas elevadas, impactando tanto os ativos públicos quanto privados de renda fixa no país.

por Mano Graal

Fonte: Expert XP

Imagens: Canva