Avanço do E-commerce no Brasil acirra caça aos galpões
O avanço do e-commerce no Brasil, nos últimos anos, é testemunho de uma verdadeira transformação no comércio eletrônico. Com o crescimento vertiginoso das compras online, especialmente após a pandemia de COVID-19, empresas dos mais variados setores passaram a disputar com intensidade os melhores galpões logísticos disponíveis no país.
Esse movimento, também chamado de “caça aos galpões”, se tornou um pilar estratégico para companhias que buscam otimizar a entrega, reduzir custos e garantir uma experiência superior aos consumidores. O desafio, no entanto, reside na oferta limitada de galpões de alto padrão em um território vasto e de infraestrutura logística desigual.
1. Crescimento Acelerado do E-commerce e Pressão Sobre a Logística
Inicialmente, é fundamental entender que o avanço do e-commerce no Brasil foi impulsionado por novos hábitos de consumo e pela entrada agressiva de players estrangeiros, como Shein, Shopee e AliExpress. Segundo dados de mercado, essas empresas dobraram os embarques para o Brasil nos últimos dois anos e, de forma ainda mais ousada, planejam triplicar os voos de mercadorias até 2026.
Esse crescimento acentuado aumenta significativamente a demanda por centros de distribuição modernos e eficientes. Além disso, a logística se tornou uma das áreas mais estratégicas do e-commerce, visto que ela pode representar até 20% da receita das empresas online, conforme estudo da McKinsey.
📊Gráfico 1 – Crescimento do E-commerce no Brasil (2015-2025)** *Evolução do faturamento anual (em R$ bilhões)*

2. Custos Logísticos: O Impacto Direto na Rentabilidade
É importante ressaltar que, dentro da cadeia logística, o frete corresponde a 58% dos custos totais, seguido por armazenagem (23%) e manuseio (19%). Por isso, as empresas buscam, cada vez mais, galpões próximos aos centros urbanos para reduzir o tempo e o custo de transporte, especialmente na chamada “última milha”, que se refere à entrega final ao consumidor.
Portanto, quanto mais próximo estiver o galpão do consumidor, mais rápida e barata será a entrega, o que contribui diretamente para o aumento da margem de lucro e melhora da competitividade.
📊 Tabela 1 – Estrutura dos Custos Logísticos no E-commerce Brasileiro

3. Concentração Geográfica: São Paulo Lidera
Atualmente, São Paulo concentra cerca de 64% dos galpões logísticos de alto padrão no país, sendo que a maioria está situada em um raio de 40 quilômetros da capital paulista. Cidades como Cajamar, Guarulhos, Embu e Barueri são os principais polos dessa infraestrutura de excelência.
Além disso, o estado de São Paulo totaliza 15 milhões de metros quadrados em galpões Classe A, o que coloca a região como uma das mais relevantes da América Latina, atrás apenas da Cidade do México e de Monterrey.

4. Dinâmica Regional: Sudeste vs. Outras Regiões
Apesar da expansão nacional do e-commerce, a infraestrutura logística continua fortemente concentrada no Sudeste. Minas Gerais, o segundo estado com maior volume de galpões de qualidade, possui quatro vezes menos espaço disponível que São Paulo. Por outro lado, o Rio de Janeiro apresenta a maior taxa de vacância da América Latina (10,2%), muito em função da insegurança e da falta de atratividade para novos centros de distribuição.
Enquanto isso, regiões como o Nordeste ainda não apresentam uma infraestrutura consolidada, apesar de oferecerem oportunidades significativas para expansão futura. Cidades como São Luís (MA) e Palmas (TO) exemplificam a baixa presença de galpões de alto padrão.
5. Corrida Estratégica das Varejistas
Diante desse cenário competitivo, grandes varejistas como Casas Bahia e Mercado Livre adotam estratégias específicas para ampliar a capilaridade logística. Estar próximo dos centros consumidores e garantir uma entrega rápida são prioridades absolutas.
Fred Gauthier, Vice-Presidente de Operações da Casas Bahia, destaca que, além da localização, as empresas avaliam fatores como acesso rodoviário, disponibilidade de energia e incentivos tributários antes de escolher um novo centro de distribuição.
Entretanto, Gauthier também ressalta que, devido à baixa vacância e alta concorrência no Sudeste, o mercado tornou-se ainda mais desafiador para encontrar novos espaços premium.
6. Expansão Para Novos Territórios
Enquanto as grandes redes focam no Sudeste, empresas como a Log vêm construindo galpões em outras regiões menos disputadas.
De acordo com Rafael Saliba, CFO da Log, metade do estoque de terrenos da companhia está no Nordeste, onde a demanda de e-commerces como Amazon, Shopee e Mercado Livre tem crescido de forma consistente.
Além disso, o plano estratégico da Log é instalar galpões próximos a cidades com pelo menos um milhão de habitantes, visando antecipar a próxima onda de crescimento regional.
7. Aumento de Preços e Expansão da Oferta
Embora o ritmo de construção de novos galpões em São Paulo continue acelerado – 1,3 milhão de metros quadrados por ano desde 2020 –, o mercado não consegue atender plenamente a demanda. Como resultado, o preço médio de locação aumentou 9% apenas no segundo semestre de 2024, pressionando ainda mais as margens das empresas.
📊 Gráfico 2 – Evolução do Preço Médio de Locação de Galpões Classe A (2020-2025)

Conclusão
A disputa por galpões logísticos de alto padrão no Brasil se intensificou com o avanço do e-commerce e a busca por eficiência. O Sudeste, especialmente São Paulo, lidera, mas o Nordeste já começa a atrair investimentos.
Portanto, empresas que quiserem se manter competitivas precisarão atuar com planejamento logístico rigoroso, investir em capilaridade e buscar oportunidades emergentes em novos polos de crescimento. Afinal, no comércio eletrônico moderno, a agilidade na entrega não é mais um diferencial – é uma exigência básica para a sobrevivência.
por Mano Graal
Fonte: InvestNews