REAL SE FORTALECE COM O PIOR PRIMEIRO SEMESTRE DO DÓLAR EM MAIS DE 50 ANOS

O primeiro semestre de 2025 entrará para a história dos mercados cambiais. O dólar americano, tradicionalmente considerado um porto seguro em tempos de crise, acumulou uma queda de 12%, sua pior performance para o período desde 1973. Paralelamente, moedas como o real brasileiro e o euro apresentaram forte valorização. O movimento global de enfraquecimento da moeda americana surpreende analistas e exige uma análise multifatorial.

I. Fatores que explicam a queda do dólar

1. A influência das políticas de Donald Trump

Em primeiro lugar, é importante destacar o papel do governo Trump. Segundo análise do banco Morgan Stanley, as políticas fiscais agressivas e a postura protecionista vêm gerando um “prêmio de risco negativo” sobre o dólar, o que adiciona até 4% de desvalorização à moeda além do que seria esperado pelo diferencial de juros. Além disso, a retórica antiglobalização e os conflitos comerciais com parceiros estratégicos aumentam a percepção de incerteza no mercado.

2. A crescente dívida pública dos EUA

Em segundo lugar, o déficit fiscal americano contribui fortemente para o enfraquecimento da moeda. As propostas de cortes de impostos promovidas pelo governo podem adicionar mais de US$ 3 trilhões à dívida pública americana na próxima década. Como resultado, investidores começam a questionar a sustentabilidade das finanças do país, migrando seus ativos para economias emergentes e para moedas mais sólidas, como o euro e o real.

3. Pressão sobre o Federal Reserve para cortes de juros

Adicionalmente, o Federal Reserve (Fed) vem sendo pressionado a realizar cortes na taxa de juros para evitar uma desaceleração econômica. Embora os EUA não enfrentem recessão formal, os juros elevados são considerados restritivos ao crescimento. Projeções do próprio Morgan Stanley indicam cortes de até 175 pontos-base em 2026, o que reduz significativamente o apelo de investimentos em dólar.

II. Reflexos Globais: O fortalecimento de outras moedas

1. O avanço do euro

Enquanto o dólar se desvaloriza, o euro registra valorização expressiva — cerca de 13% no acumulado de 2025. Esse movimento se deve à percepção de que o ciclo de alta de juros na Europa está próximo do fim, além do reposicionamento estratégico de investidores em busca de maior estabilidade.

2. Realocação de capital para mercados emergentes

De forma simultânea, analistas como Chris Turner, do ING, observam uma realocação significativa de portfólios globais. Investidores estão diversificando seus ativos, reduzindo exposição ao dólar e aumentando a participação em mercados como o latino-americano. Segundo relatório do Morgan Stanley, até US$ 66 bilhões podem migrar para ações da América Latina, sendo o Brasil o principal destino desses recursos.

III. O caso brasileiro: valorização do real frente ao dólar

No contexto brasileiro, a valorização do real é influenciada por dois grandes fatores:

  • Diferencial de juros atrativo: Com a taxa Selic em 15% ao ano, os investimentos em títulos públicos e outros ativos brasileiros tornaram-se extremamente rentáveis. Isso atrai capital estrangeiro e pressiona o câmbio a favor do real.
  • Percepção de risco melhorada: O Brasil vem apresentando um cenário econômico relativamente estável, com crescimento consistente e baixa exposição às tarifas comerciais americanas. Isso torna o país mais atrativo do que outros emergentes da Ásia ou Europa Oriental.

IV. Comparativo: moedas valorizadas vs. dólar

Ao longo dos seis primeiros meses de 2025, a performance cambial mostra claramente a força de outras moedas frente ao dólar:

V. Expectativas para o segundo semestre

Por fim, é necessário avaliar o que pode ocorrer daqui em diante. Apesar da forte desvalorização no semestre, o dólar ainda mantém certo prestígio, especialmente diante das incertezas geopolíticas no Oriente Médio e da volatilidade nas commodities. Ainda assim, analistas preveem que o ritmo de queda deve desacelerar, embora o status de “moeda de reserva global” siga sendo desafiado.

Além disso, mesmo com a recuperação das bolsas americanas, quando os retornos são medidos em euros ou reais, os ganhos ficam atrás dos índices europeus e latino-americanos — o que reforça a tendência de realocação de capital.

Conclusão

Em síntese, o dólar enfrenta em 2025 um cenário de múltiplos vetores de pressão: instabilidade fiscal, política monetária mais frouxa, e perda de atratividade global. O real, por outro lado, se beneficia de fundamentos econômicos sólidos e de uma conjuntura favorável. Assim, a moeda brasileira aproveita um momento raro para se fortalecer no cenário internacional, em um processo que pode se manter ao longo do segundo semestre — desde que as condições macroeconômicas e políticas internas se preservem.

por Mano Graal

Fonte: InfoMoney

Imagens: ChatGPT / Canvas