TENSÕES TARIFÁRIAS DESESTABILIZA MERCADOS GLOBAIS

Entre os dias 14 e 18 de julho de 2025, o cenário dos mercados financeiros foi dominado por um clima de alta tensão geoeconômica. O principal fator de desestabilização ainda está ligada a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados, determinada por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que voltou a influenciar fortemente o ambiente político global mesmo fora da Casa Branca. Sua postura protecionista, agressiva e unilateralista gerou não apenas recuo nos principais índices mundiais, mas também uma onda de críticas à sua visão retrógrada e isolacionista de comércio internacional.

Além disso, sua retórica extremista, marcada por frases de efeito como “a América deve se proteger de todos”, reacendeu temores de guerras comerciais em larga escala. Com isso, o Ibovespa caiu fortemente, enquanto apenas três ações se destacaram com ganhos acima de 6%, ao passo que sete papéis despencaram mais de 6% na semana.

1. Ibovespa em queda: reflexo da insegurança global

Antes de tudo, a tensão geoeconômica ganhou força oo longo da semana, em que o Ibovespa acumulou uma queda de 1,33%, encerrando a sexta-feira (18) aos 133.382 pontos. Por outro lado, a performance negativa foi um reflexo direto do aumento do risco Brasil diante da nova onda de protecionismo norte-americano. Com a imposição das tarifas, investidores retiraram capital de setores diretamente afetados, como petróleo, agronegócio e indústria química.

Tabela 1 – Desempenho diário do Ibovespa

DataAberturaFechamentoVariação (%)MínimoMáximo
14/07/25136.187135.299-0,65134.840136.187
15/07/25135.298135.250-0,04134.380136.022
16/07/25135.298135.511+0,19134.265135.641
17/07/25135.515135.565+0,04135.016135.792
18/07/25135.562133.382-1,61133.296135.456

2. As maiores altas e quedas da semana

  • Maiores altas:
    • AURA33: +6,8%
    • PETZ3: +6,3%
    • LWSA3: +6,1%
  • Maiores quedas:
    • BRKM5 (Braskem): -15,7%
    • GGBR4: -9,4%
    • EMBR3: -7,2%
    • MGLU3: -6,8%
    • CVCB3: -6,5%
    • VAMO3: -6,2%
    • USIM5: -6,0%

Como resultado dessa tensão geoeconômica, a Braskem foi, sem dúvida, a mais penalizada, não apenas por operar em um setor diretamente afetado pelas novas tarifas, mas também por ser percebida como um símbolo da dependência brasileira do mercado americano. O impacto foi tão forte que BRKM5 perdeu quase 16% de seu valor em apenas cinco dias.

3. Análise dia a dia: instabilidade crescente

Segunda-feira (14/07):

O Ibovespa abriu a semana em queda após o anúncio de Trump sobre a imposição de tarifas a uma nova leva de países, entre eles o Brasil. O recuo de 0,65% já refletia o temor de que esse movimento não seria apenas uma medida pontual, mas sim o início de uma escalada comercial destrutiva.

Terça-feira (15/07):

Houve um leve recuo (-0,04%), mas os mercados operaram com volume fraco e elevada cautela. O silêncio do governo brasileiro diante da medida acentuou o sentimento de vulnerabilidade.

Quarta-feira (16/07):

Com uma alta tímida de 0,19%, o mercado tentou respirar, impulsionado por setores que operam voltados para o mercado interno. No entanto, a insegurança internacional permaneceu como pano de fundo.

Quinta-feira (17/07):

Apesar da pequena alta de 0,04%, investidores reagiram a falas do Itamaraty que sugeriam maior aproximação com os BRICS, em resposta às ameaças externas. Ainda assim, o clima era de tensão contínua.

Sexta-feira (18/07):

A queda de 1,61% foi acentuada pelo anúncio da lista completa de produtos tarifados. Trump dobrou a aposta e justificou a medida dizendo que “os EUA não devem mais sustentar a prosperidade dos outros”. Essa frase foi interpretada como um sinal de ruptura com o multilateralismo, evidenciando a postura autoritária do ex-presidente.

  • Capacidade 120kg
  • Monitor 6 funções
  • uso residencial
R$1.599,00

4. Protecionismo como estratégia desastrosa

Para o Brasil:

  • Ameaça à competitividade internacional;
  • Desestímulo a investimentos externos;
  • Pressão inflacionária em setores dependentes de insumos importados.

Para os EUA:

  • Aumento no custo de vida;
  • Quebra de acordos comerciais;
  • Perda de confiança entre parceiros estratégicos.

Embora Trump alegue que a medida visa proteger empregos americanos, o efeito colateral é o isolamento econômico. Sua política de “autodefesa econômica” se assemelha mais a um ataque preventivo desnecessário que mina décadas de integração produtiva global.

5. Reação dos BRICS: rumo a uma nova geopolítica

Como consequência, o bloco BRICS intensificou sua coordenação para reduzir a dependência do dólar e aumentar o comércio entre seus membros. Há avanços concretos em direção à utilização de moedas locais e ampliação de crédito pelo Novo Banco de Desenvolvimento. Esse movimento, embora ainda incipiente, representa uma resposta direta ao autoritarismo econômico americano, desafiando a hegemonia do sistema financeiro ocidental.

6. Câmbio: desvalorização do real amplia incertezas

Durante a semana, o dólar comercial subiu de R$ 5,55 para R$ 5,58, uma valorização de 3,26% frente ao real. Esse movimento reflete não apenas a fuga de capitais, mas também o reposicionamento global de portfólios frente à imprevisibilidade da política externa dos EUA. O Brasil, como mercado emergente, sofre ainda mais diante desse cenário hostil.

7. Criptomoedas: abrigo parcial contra o caos

Enquanto o mercado tradicional sentia os abalos, os criptoativos exibiram um desempenho misto:

CriptomoedaSegundaSextaVariação Semanal
Bitcoin (BTC)US$ 60.200US$ 61.750+2,57%
Ethereum (ETH)US$ 3.190US$ 3.240+1,57%
Solana (SOL)US$ 142,00US$ 138,50-2,46%

Bitcoin e Ethereum se beneficiaram da busca por ativos menos sujeitos a decisões políticas. Solana, mais dependente do ecossistema de finanças descentralizadas, apresentou correção técnica.

8. Conclusão: Trump mina a ordem econômica global

Em síntese, a tensão geoeconômica da semana evidenciou os perigos de um mundo guiado por políticas comerciais autoritárias. A tentativa de Trump de impor sua visão de supremacia econômica americana, na prática, gerou efeitos devastadores para o Brasil e outros países exportadores. Ainda mais grave, seus métodos colocam em xeque o multilateralismo, a estabilidade das cadeias produtivas e o próprio futuro da globalização.

Se por um lado o objetivo era fortalecer os EUA, por outro, os custos — internos e externos — dessa postura isolacionista já se mostram elevados. O mundo, portanto, reage. Os BRICS ganham força e legitimidade como alternativa ao modelo unipolar que Trump representa. Ao final, a pergunta que resta é: quem realmente ganha com tanto protecionismo?

por Mano Graal

Fonte: InfoMoney

Imagens: ChatGPT / FreePik