IBOVESPA: TENSÃO E ALÍVIO NA ÚLTIMA SEMANA DE JULHO

Na última semana de julho de 2025, o mercado financeiro brasileiro oscilou entre a tensão e o alívio. Mesmo com o anúncio de isenções tarifárias por parte dos Estados Unidos — que favoreceu setores estratégicos como o de aeronaves e fertilizantes — o Ibovespa não conseguiu sustentar uma trajetória de alta. O principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda de 0,8% em reais e 0,6% em dólares, encerrando a semana aos 132.437 pontos. Ao longo do mês, o desempenho foi ainda mais negativo: uma retração de 4,2% em reais e 6,8% em dólares, marcando o pior resultado mensal de 2025 até agora.

1. Contexto geopolítico e impactos no mercado doméstico

Um dos principais motivos pelos quais o mercado financeiro brasileiro oscilou entre a tensão e o alívio foi às preocupações com as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, que dominaram o noticiário econômico da semana. A imposição de sanções da Lei Magnitsky contra um ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro elevou a percepção de risco político e trouxe volatilidade aos ativos.

Entretanto, a tensão arrefeceu após o governo norte-americano anunciar isenções tarifárias em setores-chave, especialmente para aeronaves civis, suco de laranja e fertilizantes. Esses segmentos estavam entre os mais afetados pela tarifa-base de 50% previamente anunciada pelo ex-presidente Donald Trump.

2. Mercado cambial e curva de juros reagem com cautela

Como resultado do alívio parcial nas tensões, o dólar recuou 0,3% na semana, embora ainda acumule uma alta de 3,1% em julho.

Além disso, a curva de juros apresentou fechamento, refletindo um cenário de menor aversão ao risco. No entanto, o contrato de juros DI jan/34 subiu 59 pontos-base no mês, evidenciando que o estresse inicial ainda causa efeitos nos prêmios de risco.

  • Depurador e coifa de ar
  • Dupla filtragem
  • Baixo consumo: 0,11kWh

3. Decisão do Copom: juros elevados por mais tempo

Em linha com as expectativas do mercado, o Copom manteve a taxa Selic em 15,00%. No entanto, o destaque ficou por conta do tom mais duro do comunicado, que reforçou a política de juros elevados por um período prolongado. Essa postura indica que o Banco Central permanece focado no controle da inflação, mesmo diante da desaceleração econômica.

Esse posicionamento impacta diretamente as projeções para os setores sensíveis ao crédito, como varejo, construção civil e consumo doméstico, que já vinham sofrendo com a combinação de juros altos e deterioração da confiança.

4. Resultados corporativos: sinalização mista, mas com surpresas positivas

Enquanto o cenário macroeconômico gerava incertezas, a temporada de resultados do 2T25 ganhou tração. Entre as 19 empresas da cobertura da XP que já divulgaram seus balanços, 67% superaram as estimativas, 17% ficaram em linha e 22% decepcionaram.

Esse desempenho indica uma resiliência maior do que o previsto em alguns setores, o que contribuiu para atenuar as perdas em determinados papéis.

Tabela 1: Desempenho das empresas com resultados já divulgados (2T25)

Situação frente às estimativasNúmero de empresasPercentual
Acima do esperado1367%
Em linha317%
Abaixo do esperado316%

5. Destaques setoriais: Embraer dispara, Banco do Brasil recua

No mercado acionário, Embraer (EMBR3) foi o principal destaque positivo da semana, com uma alta expressiva de 19,4%. A valorização ocorreu em resposta direta à isenção tarifária para aeronaves civis, medida que beneficia diretamente a fabricante brasileira, segundo análises de mercado.

Por outro lado, o Banco do Brasil (BBAS3) liderou as quedas, com recuo de 9,3%. A desvalorização decorreu da divulgação de dados do Banco Central que sinalizam lucros abaixo do esperado para o segundo trimestre e de um corte no preço-alvo feito por uma importante instituição financeira.

6. Cenário internacional: payroll decepciona e nova ofensiva tarifária de Trump preocupa

No ambiente global, os mercados também enfrentaram desafios. O S&P 500 caiu 2,4% e o Nasdaq recuou 2,1%. A principal decepção veio do Payroll de julho, que apresentou números abaixo do esperado, além de revisões negativas dos dados anteriores.

A situação se agravou com um novo anúncio tarifário por parte de Donald Trump, que propôs uma tarifa universal de 10% para países com superávit comercial em relação aos EUA e 15% para países com déficit — uma retórica protecionista que ameaça o comércio global.

Na política monetária, o Federal Reserve manteve os juros entre 4,25%-4,50%, como esperado. Porém, um ponto de alerta foi o dissenso entre dois membros do comitê, o primeiro desde 1993, o que aumentou as incertezas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Conclusão: cautela continua a dominar os mercados

Como vimos, o Ibovespa oscilou entre a tensão e o alívio. Apesar de alguns sinais positivos, como o desempenho de empresas resilientes e a retirada de parte das tarifas impostas pelos EUA, o mercado brasileiro encerrou julho em queda. O Ibovespa acumulou perda significativa, influenciado pela instabilidade nas relações bilaterais com os EUA, juros elevados, e um cenário externo ainda marcado pela incerteza política e econômica.

Com o Federal Reserve ainda dividido, um Copom conservador e riscos geopolíticos latentes, o investidor deve manter atenção redobrada nas próximas semanas. A volatilidade segue alta, e o desfecho da temporada de resultados e as sinalizações das autoridades monetárias serão determinantes para definir a direção do mercado no início de agosto.

por Mano Graal

Fonte: ExpertXP

Imagens: ChatGPT / FreePik