A PRIMEIRA SEMANA DE OUTUBRO NO MERCADO

A primeira semana de outubro, compreendida entre 29 de setembro e 3 de outubro de 2025, foi marcada por acontecimentos de alta relevância tanto no cenário internacional quanto no mercado doméstico brasileiro, resultando em movimentações expressivas nos principais índices de ações. Enquanto os mercados globais reagiram com certa resiliência frente a incertezas fiscais e dados econômicos mistos nos Estados Unidos, a Bolsa brasileira encerrou a semana em queda, refletindo preocupações fiscais, ajustes setoriais e movimentos técnicos de correção. A seguir, analisamos os principais acontecimentos que influenciaram os mercados nessa semana decisiva.

1. Desempenho Geral dos Mercados Financeiros

Para começar, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, encerrou a semana com queda de 0,9% em reais e 0,7% em dólares, atingindo 144.201 pontos. Essa retração resultou de uma combinação de fatores internos — como mudanças tributárias e expectativas fiscais — e externos, especialmente ligados ao ambiente político norte-americano.

Por outro lado, os índices norte-americanos registraram desempenho positivo, impulsionados pela percepção de que a paralisação do governo federal (shutdown) já estava amplamente precificada e de que o enfraquecimento de alguns indicadores poderia reforçar a expectativa de cortes de juros futuros por parte do Federal Reserve.

ÍndiceVariação Semanal (em R$)Variação Semanal (em US$)Pontuação Final
Ibovespa-0,9%-0,7%144.201 pts
S&P 500 (EUA)+1,1%5.079 pts
Nasdaq (EUA)+1,2%15.845 pts

Gráfico 1: Evolução semanal do Ibovespa vs. S&P 500 e Nasdaq (29/09–03/10)
(Inserir gráfico de linhas comparativas com tendência semanal)

Essa divergência entre Brasil e EUA mostra, sobretudo, como dinâmicas domésticas e percepções de risco fiscal podem influenciar de forma significativa o desempenho relativo dos mercados, mesmo quando os ventos internacionais são, em parte, favoráveis.

2. Estados Unidos: Shutdown, Indicadores e Política Monetária

No âmbito internacional, o principal destaque foi o shutdown do governo americano, iniciado em 1º de outubro. A paralisação ocorreu após o Congresso dos EUA não aprovar o orçamento do ano fiscal de 2026 até o prazo de 30 de setembro. Como consequência direta, houve suspensão de gastos discricionários, paralisação de órgãos federais não essenciais e interrupção temporária de serviços públicos, afetando desde parques nacionais até serviços administrativos.

Curiosamente, os mercados acionários reagiram de forma positiva ao evento, já que os agentes financeiros consideravam o shutdown amplamente antecipado. Além disso, a ausência de indicadores econômicos cruciais, como o Payroll de setembro, aumentou o foco em outros dados, em especial o relatório ADP, que veio abaixo das expectativas, apontando um crescimento de 105 mil vagas, frente à projeção de 140 mil.

Indicador Econômico EUAResultadoExpectativaImpacto no Mercado
ADP (Setembro)+105 mil+140 milReforçou temor de desaceleração no mercado de trabalho
ISM Manufatura (Set.)49,350,1Sinalizou moderação da atividade industrial

Além disso, o Índice ISM de Manufatura, ao marcar 49,3 pontos, reforçou o diagnóstico de moderação da atividade econômica nos EUA, permanecendo abaixo do patamar de 50, que separa expansão de contração.

Gráfico 2: ISM de Manufatura (últimos 6 meses)
(Inserir gráfico de barras com tendência abaixo de 50)

Em paralelo, tensões políticas entre Donald Trump e o Federal Reserve continuaram no centro das atenções. A Suprema Corte decidiu que Lisa Cook, atual diretora do Fed, permanecerá no cargo até janeiro de 2026, quando ocorrerá nova audiência. Esse episódio adicionou uma camada de incerteza institucional, podendo afetar a comunicação da política monetária.

3. Brasil: Reformas Fiscais e Implicações Econômicas

No Brasil, a semana foi dominada por temas fiscais e políticos, com destaque para a aprovação unânime no Congresso Nacional da isenção do Imposto de Renda para rendimentos mensais de até R$ 5.000. Essa medida tem forte apelo popular e amplia o poder de compra de parcelas significativas da população, mas, por outro lado, exige compensações fiscais robustas para evitar o agravamento do déficit público.

Assim, o governo implementou três medidas tributárias para equilibrar as contas:

  1. Imposto mínimo progressivo de até 10% para rendas acima de R$ 50.000 mensais;
  2. Retenção de 10% sobre dividendos superiores a R$ 50.000 por mês;
  3. Tributação de 10% sobre lucros e dividendos enviados ao exterior, com exceções específicas para evitar bitributação.
Medida TributáriaAlíquotaPúblico-AlvoImpacto Esperado
Imposto mínimo progressivoaté 10%Renda > R$ 50 mil/mêsAumento da arrecadação doméstica
Retenção sobre dividendos10%Investidores com altos rendimentosMenor atratividade das ações frente a ativos isentos
Tributação sobre remessas ao exterior10%Empresas multinacionais e investidoresEstímulo à retenção de lucros no país

Gráfico 3: Projeção de arrecadação adicional com novas medidas (2025–2027)

Em contrapartida, circularam rumores de que o governo avalia zerar tarifas de ônibus em todo o país, o que poderia ampliar gastos públicos. Embora improvável no curto prazo, a proposta pode ressurgir no plano de governo de 2026, adicionando incerteza fiscal no horizonte eleitoral.

4. Setores e Ações em Destaque no Brasil

No mercado acionário doméstico, setores defensivos e ligados a commodities apresentaram melhor desempenho relativo, beneficiando-se do movimento de abertura da curva de juros e da busca por ativos mais resilientes.

Entre os destaques positivos, a Eletrobras (ELET3 +3,4%; ELET6 +4,2%) se valorizou após a revisão positiva de preço-alvo por um banco de investimentos. Em contrapartida, Magazine Luiza (MGLU3) sofreu forte queda de 18,2%, corrigindo parte dos expressivos 67,5% de alta acumulada entre 21 de agosto e 26 de setembro.

AçãoVariação SemanalDestaque
ELET3 / ELET6+3,4% / +4,2%Revisão de preço-alvo impulsionou ganhos
MGLU3-18,2%Correção técnica após rali significativo

Gráfico 4: Top 5 altas e baixas da semana no Ibovespa
(Inserir gráfico de barras horizontais)

Esse movimento reforça a tendência de rotatividade setorial em momentos de incerteza fiscal, com investidores migrando de empresas cíclicas para empresas com geração de caixa mais previsível.

Conclusão

Em síntese, a semana de 29 de setembro a 3 de outubro foi caracterizada por forte contraste entre os mercados internacionais e o brasileiro. Enquanto os EUA enfrentaram um shutdown e indicadores mais fracos com relativa calma, o Brasil viu crescer o debate sobre sustentabilidade fiscal e mudanças tributárias, o que pressionou o Ibovespa.

Dessa forma, para os próximos períodos, será crucial acompanhar:

  • A trajetória da política fiscal brasileira,
  • A evolução da curva de juros,
  • E os desdobramentos políticos americanos, que poderão redefinir fluxos globais de capital.

Em última análise, a interação entre fatores domésticos e internacionais continuará sendo determinante para os rumos dos mercados financeiros no curto e médio prazos.

por Mano Graal

Fonte> Expert XP

Imagens: InfoMoney